17 de março de 2010

sem ele

eu nunca imaginei como alguém se sente depois de uma perda. na verdade, nem é possível imaginar sem passar por isso. eu pensei que não ficaria tão abalada, que a vida seguiria, como todo mundo fala que acontece, mas a vida muda. eu mudei, muito. metade das coisas que eu conheço perderam completamente o sentido. eu estou retraída, tentando me esconder do mundo e da dor que eu sinto latejar o tempo todo. como se fosse possível. me afastei um pouco da vida depois da morte. fico quietinha no meu cant,o tentando entender como as coisas acontecem. de um dia pro outro tudo está diferente. o mais estranho é pensar que em um mundo com centenas de milhares de pessoas, uma faz falta. uma falta enorme, inexplicável. um espaço vazio faz mudar o mundo inteiro de alguém. e eu não sei, sinceramente, se eu vou me acostumar com isso algum dia. todo mundo diz que sim, mas eu acho que não.

6 de março de 2010

adeus você

eu nunca imaginei que me sentiria assim. pra falar a verdade, eu sempre pensei - e penso - muito na morte, mas quando acontece não parece uma coisa real. desde pequena eu imagino como seria perder os meus entes queridos. dái eu choro, sofro, desisto de pensar e pronto, fica tudo bem. agora é diferente de tudo, ainda mais por ser ele. minha relação com o meu avô não é algo que eu possa explicar. ele era completamente diferente de mim no modo de agir. pelo menos eu achava isso quando ele estava vivo. ele fez umas besteiras, magoou umas pessoas de quem eu gostava, e isso sempre mexeu muito comigo. morávamos na mesma casa, mas ele era o mais distante. preferia os outros, os puxa-sacos, os que sempre tinham uma segunda intenção quando davam carinho. aí ele adoeceu. ai eu comecei a acordar toda madrugada pra ver como ele estava, pra ajudar, pra acalmar. nossa relação ficou intensa, até cansativa, se é que eu posso chamar assim. mas ainda distante. eu me culpei muito quando ele foi embora. ainda me culpo, talvez por ser tudo muito recente. o passado não é mutável, mas algumas coisas a gente começa a entender com o passar dos dias. eu tive os meus motivos. ele me deu motivos. por mais que eu tenha sido injusta em alguns momentos, eu fui  melhor neta que eu pude ser. a mais preocupada, a mais presente, a que mais esteve perto. e eu o amei muito. um amor diferente do que o que eu sinto pelas outras pessoas. um amor que ficou um tempão escondido, que às vezes se mostrava sob uma capa protetora e que se mostrou completamente quando eu tive que ir embora do cemitério e deixar ele lá sozinho. os outros netos nunca souberam que ele tinha medo de escuro e dormia com a luz acesa. os outros netos não sabem que tipo de música ele ficava ouvindo mil vezes sem parar. os outros netos não sabiam que ele gemia enquanto dormia. os outros netos não sabiam de nada. e eu não vou esquecer nunca tudo o que eu sei a respeito dele. e ainda que tudo continue estranho, acho que ficaremos mais próximos agora, que as palavras são completamente desnecessárias pra que a gente esteja junto um do outro.